Portugal de bicicleta: Ecopista do Dão
Gostas de andar de bicicleta sem ter de pedalar? Então esta é a ecopista certa para ti.
Verdade. Esta ecopista é mesmo “sempre a descer”. É a ecopista perfeita para ciclistas (um pouco) preguiçosos como eu.
Foi uma pedalada perfeita. O dia estava quentinho (sem exageros), o grupo bem animado e as vistas sobre as margens do rio eram de uma beleza rara.
Esta era uma das ecopistas que há muito ocupava o topo da minha lista “Portugal de bicicleta”. Andava a adiar por falta de tempo e também pela distância (cerca de 160 km de casa). Apesar de ser algo que gosto muito de fazer e de ser um dia de lazer, é sempre cansativo.
Mas chegou o dia marcado na agenda e lá fomos. Reunimos a tropa, mochilas às costas, muita água (e chocolates), munidos de GPS e pusemo-nos a caminho de Viseu.
Ecopista do Dão
A Ecopista do Dão, tal como o nome indica, é acompanhada pelo rio Dão em todo o seu percurso, com 47 km no seu total, e faz a ligação entre Santa Comba Dão e Viseu. O comboio deixou de circular em 1988 e a linha ferroviária deu lugar a uma das maiores e mais bonitas ecopistas de Portugal.
O que mais destaco nesta ecopista são as paisagens, verdadeiramente incríveis, sobre o rio e sobre as vinhas do Dão. No seio da natureza, com o chilrear dos pássaros, os sons da água do rio e a leve brisa, dá uma sensação de liberdade incrível.
Onde comecei
Depois de quase 2 horas de viagem e de percorrer uns 500 metros do início da ecopista do Dão de carro (literalmente), eis que chegamos ao primeiro ponto: Abelenda Bike Rental.
Como o objetivo era descer a ecopista do Dão e apenas 30 km do seu total, alugamos previamente as bicicletas e também o transfer, que nos transportou da Abeleda Bike Rental até à Estação de Farminhão, onde iniciamos o trajeto.
Bem, mas antes disso, ainda houve tempo para o almoço e uma bebida bem fresquinha. A antiga estação de Farminhão deu lugar ao Station Alive Bar, um restaurante com uma esplanada muito agradável, mesmo junto à ecopista.
Iniciamos esta pedalada por volta das 14:00 e terminamos já o relógio avistava as 18:30.
Foram 4 horas e 30 minutos a contemplar as paisagens do Dão, com paragens para repor energias, hidratar e mergulhar no rio.
Aluguer de bicicleta
Alugamos as bicicletas na Abelenda Bike Rental, uma loja de aluguer de bicicletas, integrada numa quinta lindíssima, num dos extremos da ecopista.
Bicicletas confortáveis, algumas BTT, outras de cidade, bem higienizadas e completamente equipadas com capacete e bomba de ar.
O Pieter, responsável pela loja, é muito simpático e recebeu-nos muito bem. Além das bicicletas, o Pieter tratou também do aluguer do transfer e de toda a logística necessária para que tudo corresse pelo melhor.
Percurso
Este percurso foi o mais fácil que já fiz até hoje. Não só por ser sempre a descer, mas também pelo piso que está muito bem conservado. O pavimento é cimentado e liso e está dividido por cores (verde, vermelho ou azul) para identificação dos concelhos por onde passa.
Todo o trajeto está devidamente sinalizado, com informação do quilómetro e dos acessos às praias fluviais. Durante o trajeto existem, também, alguns cafés junto à ecopista, ondem é possível parar para hidratar e/ou usar o WC.
Alertas para possíveis perigos no trajeto
Este trajeto oferece mesmo muita segurança. Não tenho qualquer perigo a apontar. O único alerta que levanto é que é perigosamente belo e podem apaixonar-se perdidamente pelas paisagens de Viseu.
Locais de interesse ao longo do percurso
Ao longo do trajeto existem estações de comboio antigas, uma locomotiva antiga (que não consegui visitar mas que, pelas fotos, recomendo) e praias fluviais lindíssimas.
Praia Fluvial Nagozela
É obrigatório visitar este local bucólico. A descida é bastante inclinada (e consequentemente há a subida) e não consegui ir em cima da bike, no entanto, quando lá cheguei, e depois de parar umas quantas vezes para tirar fotografias à paisagem, fiquei deslumbrada com aquele local tão encantador e tão pacato. Surpreendeu-me pela beleza e pela paz.
Confesso que me apetecia dar um mergulho do cimo da rocha mais alta que avistava, mas lembrei-me que não sei nadar assim tão bem e que o INEM ainda não anda de bicicleta, portanto, contive os meus desejos e mergulhei só os dedos dos pés.
Isto não é para vos dizer que preciso de aperfeiçoar as minhas técnicas de natação (que são poucas), mas para vos dizer que o rio é calmo, mas que parece profundo.
Recomendo que mergulhem apenas se souberem nadar muito bem. Ou um bocadinho melhor do que eu. Mas caso possam, não deixem de visitar. É um local que transpira paz.
Estações antigas
Pelo caminho aparecem bastantes estações antigas, algumas em ruínas, já bastante degradadas, mas que vale a pena entrar, nem que seja em cima da bike, só para dar uma espreitadela.
Túnel de Santa Catarina
Já se imaginaram a entrar num túnel com 200 metros de comprimento, sem luz absolutamente nenhuma? E onde nem a lanterna do telemóvel consegue iluminar? Foi brutal… e assustador também. Quando entrei, achei que, como qualquer túnel por onde normalmente passo, este também estaria bem iluminado. Mas, naquele dia, apagaram as luzes e, quando entro uns 50 metros dentro, sinto-me no meio da escuridão e não consigo ver nem um palmo à frente da roda da bike para poder continuar o caminho. O que é que faço? O que melhor sei fazer. Parar e gritar por ajuda. Por sorte, os meus amigos são pessoas cheias de coragem e não nos deixaram para trás. Sim, a nós, meninas. Porque as meninas do grupo encalharam todas no mesmo sítio. Não estou a dizer que as meninas são menos corajosas que os meninos. Não é nada disso. Mas talvez a nossa visão seja mais reduzida no escuro, de tal forma que não havia condições de continuar sem a ajuda dos meninos. Estou a exagerar um bocadinho na parte da coragem, vá. Mas lá que foi assustador, foi.
Ponte metálica sobre o rio Dão
E já que estamos numa de falar de medos, aqui encontrei outro onde precisei de muita coragem para enfrentar. E aqui, sim, fechei os olhos e fui mesmo sem ajuda.
Além do medo, sinto vertigens quando olho do cimo de locais bem altos. E esta magnífica ponte, tem uma beleza incrível, mas o chão é furado. Depois de fazer umas fotos giras e fazer de conta que estava tranquila, fechei os olhos e, de borboletas na barriga, atravessei esta ponte metálica, lindíssima, sobre o rio Dão.
O que levei
Adoro combinar os passeios de bicicleta com piqueniques. Portanto, levei o almoço e uns snacks para manter a energia o resto do dia. Recomendo sempre que levem mais do que uma garrafa de água, no entanto, nesta ecopista há locais onde podem parar e comprar.
Recomendo sempre óculos de sol, não só pelo sol, mas pelos mosquitos que viajam ao sabor do vento e mergulham na nossa córnea ocular sem pedir autorização.
Além disso, roupa e sapatilhas confortáveis, protetor solar (faça sol ou chuva), e boa disposição. A receita perfeita para um dia perfeito.
A minha experiência
Cada vez gosto mais destes passeios de bicicleta. Principalmente dos que não têm grandes inclinações. Gosto de pedalar enquanto ouço o som do vento a bater nas folhas das árvores. Gosto das paisagens verdejantes e de sentir-me parte da natureza.
Pedalar é sempre uma descoberta e o nosso país tem recantos lindíssimos. Certamente que não tinha conhecido este local se não fosse de bicicleta.
Além disso, dar ao pedal é uma ótima forma de exercitar o corpo e um prazer terapêutico ao mesmo tempo.
Sinto-me leve, bem-disposta, cheia de energia e uma paz interior incrível. É uma sensação de bem-estar indescritível. Além de tudo isto, ainda passo tempo com pessoas de quem gosto muito.
Este foi, sem dúvida, mais um passeio soberbo. E que muitos outros venham. Quero continuar a descobrir Portugal de bicicleta.