Se há coisa que admiro nos gatos, é a capacidade deles de viverem no presente. Vivem a vida a “full”. Mas no que
a isto diz respeito, o Suri abusa.
Este pequeno “peluche com pernas”,de pelo escuro e olhos verdes, vive cada momento como se fosse o último. E ninguém consegue chamar a atenção dele para qualquer outra coisa. Gostava muito de ser assim. Viver o presente sem pensar, nem no passado nem no futuro. E tem sido isto que o Suri me tem vindo a ensinar. A desacelerar. A viver o momento. A tirar prazer das pequenas coisas dos meus dias.
O Suri só faz uma tarefa de cada vez
Este pequeno destrambelhado, como carinhosamente lhe chamo, dedica-se de corpo e alma a uma tarefa de cada vez. Quando é para comer, é para comer. Quando é para dormir, é para dormir. E quando é para brincar, é mesmo para brincar.
Na hora da refeição, quase que se senta em cima da taça e delicia-se com aqueles cereais como se de caviar se
tratasse. Dá gosto vê-lo comer. Posso chamá-lo ou tentar distraí-lo com qualquer som, que o comilão só arreda pé quando vir o fundo da taça. Come com prazer e satisfação. Aquele momento é só dele e é para desfrutar.
O mesmo acontece na hora de dormir. Faz uma mini escalada até ao topo do arranhador, enrola-se como um caracol no patamar do topo e dorme as suas sonecas profundamente. Deve ser por isso que é um gato lindo, de pelo brilhante, olhos verdes, cheio de saúde e energia. Os seus sonos são mesmo reparadores.
E quando é hora de brincar? Nesta hora, sim. Temos toda a atenção do mundo.
Posso afirmar que é o gatinho mais brincalhão que já tive. Com um jeito destrambelhado, que para mim é o mesmo que trapalhão, corre e salta pela casa, cheio de energia e vitalidade. Adora atenção, mimos e que brinquem com ele. Nota-se mesmo que é um gato feliz.
É nestes momentos que tenho de ter todas as gavetas e portas fechadas, porque este “macaquinho” adora espalhar
pelo chão tudo o que lhe aparece pela frente.
Uma das tarefas que está na minha agenda diária chama-se “Asneiras do Suri”. Dedico 10 minutos do meu dia a apanhar as coisas que o Suri espalhou pela casa.
O que o Suri mudou na minha vida
Tenho uma vida muito agitada, a agenda sempre cheia e ando sempre com o pensamento a mil, a pensar na tarefa que estou a fazer, nas que já fiz e nas que ainda tenho para fazer. Adicionando isto ao facto de ser uma pessoa ansiosa, muitas vezes ando ali muito perto da exaustão, não só física, como emocional.
Um dia, enquanto apreciava o Suri num dos seus longos e relaxantes banhos de sol, concluí que queria ser como
ele. Não, não quero ser gato. Ou talvez queira, não sei. O que sei é que era mais fácil viver a vida como ele vive. E isso só depende de uma coisa: de mim.
Simples, não é?
Uma tarefa de cada vez
Um dos erros mais comuns e que me gera mais ansiedade é querer fazer tudo ao mesmo tempo.
Tenho bastante dificuldade em viver no presente e executar uma tarefa de cada vez. Muitas vezes dou por mim a fazer determinada tarefa e a pensar em como vou fazer as seguintes, o que me gera ansiedade.
Óbvio que esta é uma situação delicada e não é uma decisão só que me vai transformar numa pessoa calma, mas temos sempre de começar por algum lado.
E eu comecei por decidir que vou ser como o Suri e fazer uma só tarefa de cada vez e entregar-me a ela de corpo e alma. E sem a terminar, não passarei à próxima, nem em pensamentos.
Bem, já iniciei esta experiência e posso dizer que, para já, está a resultar muito bem. Posso dizer que, a maior parte dos dias, termino a agenda mais cedo e com sucesso e com metade da ansiedade que o habitual.
Claro que há dias em que nada disto é possível, mas são mais os dias em que consigo do que os que não consigo.
Refeições sem telemóvel
Com pequenos passos se percorrem grandes distâncias. E a segunda decisão que tomei foi começar a fazer as refeições sem o telemóvel.
Da mesma forma que o Suri se senta em cima da taça a comer com prazer, também eu quero. Não, não me vou sentar em cima da mesa, mas quero desfrutar das minhas refeições com prazer.
Costumava fazer as minhas refeições enquanto respondia a emails e mensagens. Não fazia bem nem uma coisa nem outra.
Não fazia a refeição com calma e nem estava com atenção a responder aos e-mails. O telemóvel continua ao meu lado, porque sou dependente daquele aparelhómetro, mas só no final é que o uso.
Permitir-me relaxar
Tal como o Suri, também eu quero os meus sonos da beleza.
Nem tanto o sono em si, mas aqueles momentos em que me permito fazer apenas coisas que gosto e que me relaxam. E permito-me, agora, pelo menos aos fins-de-semana, a momentos só meus. É aqui que “recarrego baterias” e refloresço.
E não é que fico muito mais preparada para enfrentar mais uma semana?
É também nestes momentos que organizo as ideias, fecho uns capítulos e abro outros.
Estas são apenas algumas das lições que o Mestre Suri me tem vindo a ensinar. Mas já aprendi muito, não só com o Suri, mas com todos os felinos cá de casa.
Só temos de parar e ver o mundo pelos olhos deles. Acreditem que tudo é muito mais simples.